Mais um episódio da nossa sociedade conflitante e deprimente abalou meu ser na noite passada, 01 de julho de 2008.
Quarto artistas plásticos foram direcionados a delegacia por crime ambiental. Destes obviamente, eu era um deles. Sim sim, cometi um crime ambiental!!!! Fiquem calmos não matei nenhum bichinho muito menos derrubei alguma árvore. Simplesmente dois dos meus queridos companheiros de criminalidade colaram um lambe-lambe (fotografia/desenho) numa caixa de fios da Telefônica.
Pergunta: Qual o crime mesmo?
Lei de crime Ambiental:
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.
Seção IV
Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural
Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/
Ah ok...
Me pego pensando na facilidade em cruzar os braços e vendar os olhos, nada é dito as claras, tudo fica mascarado numa sociedade podre. Sim, convenhamos que vivemos numa tribo sem direções, ou melhor, a única direção que vejo é bem funda escura e nojenta, porque poucos fazem alguma coisa.
Não podemos negar que escolhemos viver em uma Pátria Mãe Gentil, bonita por natureza, mas pobre de habitantes. Evolução é o que nos falta. Inteligência e educação também.
Tráfico de drogas, assaltos, assassinatos, roubo, estupro. Vamos dar um pouco mais de atenção, por favor?! 1h30 da manha vocês policiais tão firmes no cumprimento da lei poderiam estar fazendo alguma coisa um pouco mais útil que nos abordar. Vão colocar os reais criminosos que assombram a população brasileira atrás das grades.Ah, sim! Sem esquecer-se da [des] qualificação de ensino, saúde, transportes públicos valem a ser pensados também né?! Mas ai é assunto para nosso Excelentíssimo Sr. Presidente (que segundo uma nota que li no jornal Folha de S.P. ele terá que fazer o teste do bafômetro para dirigir nosso País. (rs)
Claro que venho por meio do blog defender meu pensamento, sou artista, minha poética é intervenção urbana e valorizo a manifestação em busca de uma reflexão, me entristece ver o boicote a cultura, a arte relacionada ao vandalismo e o pré conceito que existe só de olhar para outro individuo, segundo o PM que nos abordou somos hippies, assim como já fui taxada de louca por um professor (segundo os padrões um dito “MESTRE”) da Belas Artes (faculdade que curso o 4º ano de Artes Visuais) ao ver a apresentação da minha performance. "De perto ninguém é normal", diz o Trop Caetano Veloso na canção Vaca Profana.
O que mais me agradou nessas horas perdidas (entre unidade móvel da PM, voltinha no carro de polícia e Delegacia) foi que aquele bichinho que às vezes grita em meus ouvidos pedindo uma ação se alimentou ricamente de pensamentos, esses tão conflitantes e reflexivos quanto aos que já existiam.
Viver em sociedade nos confere regras e moldes de coexistência que levam a uma repressão a nossos instintos, tornando nossos seres um tanto quanto neuróticos, essencialmente a suposta sociedade vive da repressão dos indivíduos. Logo se não nos movermos viveremos numa ditadura de opiniões, em uma sociedade alienada aos meios de comunicação e a uma política desenfreada. Cadê nossa liberdade?!
Será que pertencemos à suposta nova geração de manifestantes de contracultura?! Não sei difícil dizer.
Focando na área que possuo um pouco mais de conhecimento enfatizo manifestações que trazem recordações e reflexões até hoje. Woodstock e Maio de 68 na França nortearam os pensamentos do jovens a fim de questionar a sociedade. A contracultura vem sociologicamente como um fenômeno intercontinental, seus desdobramentos tornam essas supostas normas e regras mais sutis no âmbito social. Dessas vertentes de manifestações caracterizo duas personalidades de massa assumidas pela juventude dos anos 70. Uma militante, clandestina e um pouco terrorista, chamada aqui de Guerrilheira e outra enfatizando o distanciamento quanto à forma de organização social, uma posição Hippie.
Hoje consigo visualizar essas massas de forma muito nítida, elas permaneceram nos jovens do novo século, o pensamento social e político conservam-se inseridos nos corações e pensamentos dos “Novos” jovens que não se acomodam para os problemas e tentam de alguma forma fazer a sociedade/comunidade caminhar para a evolução, pensando no fazer político.
Buscar um melhor entendimento e compreensão social sobre os tabus culturais e morais, os costumes e padrões, as tradições e preconceitos no território político não é crime.Fechar os olhos e não ver os que muitas instituições sociais deixam de fazer, é!
Fator inegável do nosso atraso é o distanciamento de classes, que apresentam seus discursos miseráveis quando se sentem afetados pelo cutucão que o “outro”, classe não dominante, dá. A culpa de boa parte desse atraso social deve-se aos ricos, brancos e educados que impuseram uma hegemonia pertencente a uma elite retrógrada que só pensa em beneficiar o próprio umbigo. E nesse meio em questão, coloco como exemplo a aluna de determinado curso da Belas Artes que se pronunciou quanto à pichação de seu veiculo (zero, rs) na manifestação artística do aluno quartanista Rafael Augustaitiz no dia 11 de Junho deste ano.
Como é difícil ter inteligência para pelo menos tentar PENSAR e REFLETIR sobre os fatos que ocorrem embaixo do próprio nariz.
Porém, finalizando esse relato expansivo dos pensamentos que fogem da minha cabeça, acredito que as mudanças não são feitas de maneira sempre pacíficas e indolor, sem deixar cicatrizes. Mas para o bem da nação alguns arranhões e machucados são bem vindos e curáveis.
Então... Bora colocar nas ruas suas idéias e ideais. Sem medo da tentativa e com argumentos para explanação do povo... Porque ainda inteligente que sou não consegui visualizar crime nenhum ai. [ha ha ha ha]
Como desfecho da delegacia, fomos liberados pois até o delegado achou aquela situação desnecessaria e voltamos revoltados para casa... a pé... 3h30 da manha!!! [Papillon/Bituca; Nast; Pastore; Fino; e sua mamãe bem qrida, Magali]